Estou fugindo de São Paulo desde que cheguei aqui, mas só percebi agora…
Pra quem cresceu na periferia o contato com a natureza nunca foi uma coisa vasta, ouvir o som que ela emana então, nem se fala. Foi o barulho de tráfego, música alta e falatório que criou meu repertório de vida.
Vida essa sempre corrida, sempre sem tempo.
A ideia de sentar e relaxar nunca existiu. Mas também, qual seria o propósito disso? Por que perder meu precioso tempo de estudo e trabalho para… viver?
O ócio não é permitido para a periferia.
O ócio é visto com maus olhos, com desprezo e sem sabedoria.
E eu, que a 23 anos busco a felicidade em locais que não a poderia ter, me encontro sentada. Olhando, parada, para o nada.
Não há uma atividade a ser feita, não há um livro a ser lido, não há um trabalho com prazo apertado.
Há o vento, há quietude e há paz.
Essa é a única definição para esse espaço.
Me encontro sentada em meio a Reserva Natural de Blashford Lakes e me pergunto como, em todos esses anos, me restringi a viver. Me rotulei a seguir um caminho imposto que nunca foi meu. Me proibi a escrever – pra que perder tempo? -, a pensar e sonhar.
Me permiti produzir, cada dia e vez mais, até que não restasse nada.
E eis aqui, eu, fadada a sentir-me culpada ao aproveitar o ócio, em um dos lugares mais lindos e silenciosos que a vida já me permitiu estar.
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